Prevenção e Tecnologia aliados no Combate ao Câncer de Pulmão: Não basta parar de fumar

Instituto Oncoguia

 

O câncer de pulmão é um dos mais agressivos, e em muitos países é o tipo de tumor que mais mata. No Brasil, infelizmente, o câncer de mama e de próstata continuam a disputar essa perversa liderança no ranking das mortes por câncer em mulheres e homens, respectivamente. O acesso aos exames de prevenção e à informação de que é possível detectar, tratar e curar a maioria dos tumores malignos por meio de procedimentos cirúrgicos; por vezes dispensando à radioterapia ou quimioterapia, ainda é um desafio para a nossa população.

 

Tal acesso, nos países considerados mais desenvolvidos (seja lá o que isso quer dizer) já fez com que a mortalidade por tumores como o de mama e próstata caísse muito; mas, isso não ocorreu com o câncer de pulmão, e daí a sua infame liderança… pois até poucos anos a detecção precoce com melhora da sobrevida era um objetivo considerado fora do alcance. Isso acontecia porque muitos estudos utilizaram o exame do escarro e a radiografia do tórax, encontrando tumores em fases avançadas, onde o tratamento não ocasionava a cura, ou melhora da sobrevida. Esse efeito, conhecido como “lead-time bias” na língua inglesa, pode ser traduzido como um grande tempo de espera para detecção. Por outro lado, a descoberta de tumores “indolentes” trazia à tona o conceito de “overdiagnosis”; isto é, o achado de tumores que não necessariamente trariam consequências ao seu “hospedeiro”.

 

Os métodos de imagem evoluíram, e com esses também evoluiu o entendimento sobre a biologia e o comportamento dessa doença letal. Nos últimos 20 anos foi possível observar uma ocorrência crescente de pequenos tumores do pulmão; e isso ocorreu pois a população de maior risco (fumantes ou ex-fumantes) passou a ser submetida mais frequentemente aos exames de tomografia do tórax, seja para check-up ou por outras razões médicas não relacionadas ao câncer. Contudo, a observação da boa evolução desses pacientes a longo prazo renovou o interesse pela detecção precoce do câncer de pulmão.

 

Estudos provenientes do I-ELCAP (International Early Lung Cancer Action Program) ao final do último século alavancaram o interesse pelo uso da tomografia; e ao final de 2011 tornou-se de conhecimento público os resultados do estudo NLST (National Lung Screening Trial) que comprovou um real benefício do uso da tomografia computadorizada de baixa dosagem (TCBD) para a população classificada como de maior risco para o câncer de pulmão: fumantes ou ex-fumantes acima de 55 anos, e que tenham fumado por ao menos 30 anos.

 

Em paralelo aos avanços na área diagnóstica, os métodos cirúrgicos do tórax também mudaram radicalmente nas últimas décadas. As grandes incisões, com maior agressão e consequente morbidade, deram lugar às cirurgias vídeo-assistidas; e em muitos casos a abordagem cirúrgica é substituída pela biópsia guiada por imagem, onde o uso do ultrassom e da tomografia guiam a colocação de agulhas em tumores suspeitos, mas que ao final são comprovadamente benignos.

 

Chegamos em 2015 com a aprovação da cobertura para o rastreamento do câncer de pulmão nos Estados Unidos pelo sistema Medicare-Medicaid ; e isso quer dizer que a maioria das pessoas sob risco poderão ter acesso a essa tecnologia na América do Norte. Recentemente apresentamos os resultados iniciais do “Propulmão”, primeiro programa nacional em detecção precoce do câncer de pulmão; onde aprendemos que existem inúmeros desafios na implementação desse processo com segurança para os pacientes; mas é factível mesmo com a nossa prevalência de doença granulomatosa (que ocasiona mais nódulos falso positivos).

 

Sendo assim, neste espaço, criado pelo Instituto Oncoguia, pretendemos informar e discutir todos os avanços e desafios citados acima; mas sempre tendo em mente que a prevenção é o melhor caminho na luta contra o câncer.

 

A cirurgia pouco invasiva e curativa está bem mais ao alcance dos pacientes e médicos que resolvem tomar esse caminho de forma responsável.

 

Aos defensores contumazes apenas da prevenção primária: lógico que vamos falar sobre parar de fumar, assunto presente em todo o restante do portal, e maneira eficaz de reduzir mortes em quase todos os tipos de câncer. Mas, quem chegou até aqui já se convenceu disso, quer e precisa saber mais.

 

Ricardo Sales dos Santos

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Santos, Ricardo Sales dos. Rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de pulmão no Brasil e no mundo: dilemas, controvérsias e respostas.
Henschke CI, McCauley DI, Yankelevitz DF, et al.: Early Lung Cancer Action Project: overall design and findings from baseline screening. Lancet 354 (9173): 99-105, 1999.
National Lung Screening Trial Research Team, Aberle DR, Adams AM, Berg CD, Black WC, Clapp JD, et al. Reduced lung-cancer mortality with low-dose computed tomographic screening. N Engl J Med. 2011 Aug 4;365(5):395–409.
Centers for Medicare & Medicaid Services. Final National Coverage Determination on Screening for Lung Cancer with Low Dose Computed Tomography (LDCT) (CAG-00439N). February 5, 2015. Accessed March 31, 2015.
Santos RS, Franceschini J, Kay FU, Chate RC, Costa Júnior Ada S, Oliveira FN, Trajano AL, Pereira JR, Succi JE, Saad Junior R . Low-dose CT screening for lung cancer in Brazil: a study protocol. J BrasPneumol. 2014 Apr;40(2):196-9.

http://www.oncoguia.org.br/conteudo/prevencao-e-tecnologia-aliados-no-combate-ao-cancer-de-pulmao-nao-basta-parar-de-fumar/7844/913/

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