Cirurgia Minimamente Invasiva para o Câncer

Instituto Oncoguia

 

O termo cirurgia vem do Latim CHIRURGIA, do Grego KHEIRURGIA, “feito com a mão”, de KHEIROS, “mão”, mais ERGON, “trabalho”. O conceito de cirurgia minimamente invasiva está atrelado ao avanço tecnológico, pois ao trabalhar com as mãos o cirurgião vem associando diversos outros instrumentos, que são utilizados para manusear melhor os tecidos ou enxergá-los de forma mais nítida. Tais avanços evitam que sejam necessárias grandes incisões, para literalmente “colocar as mãos dentro do paciente”.

 

Em um passado não muito distante; acreditem, ouvi isso muitas vezes na minha residência médica! dizia-se “Grandes cirurgiões= grandes incisões”, frase que certamente esvaziaria o consultório de muitos hoje em dia. Não é mesmo ? Contudo, antes fazia sentido tais cirurgias “exploratórias”, pois os médicos não dispunham amplamente de tomografias computadorizadas, do exame PET-CT, ou nem mesmo dos atuais equipamentos óticos, com câmeras em miniatura que permitem avaliar órgãos e cavidades do corpo humano sem a necessidade da abertura cirúrgica.

 

Na cirurgia torácica, em 1910 um médico da Suécia chamado Hans Christian Jacobeus teve a ideia de explorar a cavidade pleural, na tuberculose, com um instrumento ótico, e assim criou a Toracoscopia. Esse procedimento minimamente invasivo, que antes era utilizado apenas para a abordagem da pleura, permite atualmente a execução de cirurgias de alta complexidade no pulmão (ex. Lobectomia , Segmentectomia) e mediastino (Ex. Timectomia, Esofagectomia ). Tais procedimentos mais complexos exigem, entretanto, treinamento mais avançado, e não são todos os cirurgiões que são habilitados ao seu uso. Grandes esforços vem sendo feitos no Brasil e mundo afora para que o treinamento seja acessível ao maior número possível de especialistas, em benefício do paciente. Mais recentemente, outro recurso tornou-se realidade no Brasil. Em 2010, um século após Jacobeus, o nosso grupo instituiu a Cirurgia robótica do tórax no Hospital Israelita Albert Einstein. As suas indicações são semelhantes a da Toracoscopia, porém apenas em casos bastante complexos. A robótica, desde então, vem ajudando na expansão conceito da cirurgia minimamente invasiva em nosso meio.

 

A abordagem do paciente com câncer, ou sob suspeita da doença, é feita inicialmente com o diagnóstico seguido do seu estadiamento; isto é, da identificação do tipo do câncer e da sua fase evolutiva por meio da análise do tamanho, localização e extensão da doença. A cirurgia torácica minimamente invasiva dispõe de instrumentos endoscópicos, de imagem e da toracoscopia como meios adequados para obter informações e, em discussão com o oncologista, determinar o próximo passo no tratamento do câncer. Muitas vezes, o diagnóstico e tratamento cirúrgico poder ser efetuados simultaneamente com a toracoscopia. A depender do julgamento do cirurgião, a biópsia percutânea guiada pela tomografia, ou por meio da endoscopia respiratória (Broncoscopia) pode ser feita em antecipação ao procedimento cirúrgico.

 

Felizmente, hoje em dia a maioria dos procedimentos cirúrgicos no tórax pode ser realizada com pequenas incisões, permitindo uma recuperação mais rápida e menos dor no período pós-operatório, com abreviação da internação hospitalar e retorno mais rápido às atividades normais. Tanto a cirurgia vídeo assistida quanto as intervenções percutâneas ou endoscópicas são particularmente úteis quando a doença pode ser controlada ou eliminada nos seus estágios iniciais, ou quando a condição clínica do paciente não permite grandes intervenções. Isso acontece geralmente em virtude de deficiência do coração ou do pulmão. A abordagem minimamente invasiva do tórax inclui ainda a possibilidade de tratamento ou de diminuição dos sintomas e da própria doença por meio de procedimentos percutâneos ou realizados com a endoscopia.

 

O caminho para a cura, ou paliação, do câncer quase sempre não é uma linha reta: com início, meio e fim bem estabelecidos. Os métodos diagnósticos não invasivos (raios X, Tomografia, PET) podem não ser precisos para dar a ultima palavra; e mesmo as biópsias também podem ser inconclusivas por não conter material representativo da doença. O seu médico deve explicar essas chances e quais as complicações possíveis de quaisquer procedimentos antes da sua execução; e o paciente tem o direito de escolher o caminho, sendo bem informado.

 

A recomendação de uma biópsia ou cirurgia traz uma ansiedade grande para o paciente e sua família; portanto, sempre é importante discutir com o cirurgião torácico o método menos invasivo para que isso seja feito; minimizando a dor, o sofrimento e os custos associados ao procedimento.

Ricardo Sales dos Santos

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