EUA publicam nova diretriz para prevenção do câncer de pulmão

FONTE: Revista VEJA

Caderno Câncer Colégio Americano de Medicina Torácica indica que pacientes em risco devem ser submetidos à tomografia computadorizada de baixa dosagem

 

O Colégio Americano de Medicina Torácica (ACCP, sigla em inglês) publicou na edição deste mês do periódico Chest Journal a terceira parte do seu guia de orientações médicas para o câncer de pulmão. Com as novas diretrizes, a entidade passa a recomendar a tomografia de baixa dosagem, anualmente, como exame preventivo de rotina a pacientes em risco de desenvolver a doença — o rastreamento, até então, vinha sendo feito majoritariamente com radiografia total do tórax. De acordo com a entidade, com a tomografia de baixa dosagem há uma redução de 20% nos casos de mortalidade pela doença.

 

O câncer de pulmão costuma ser diagnosticado apenas em estágios avançados, já que não é comum a presença de sintomas nas fases iniciais da doença. Por isso, esse câncer apresenta altos índices de mortalidade. Estão no grupo de risco pacientes de 55 anos a 74 anos, fumantes ou ex-fumantes que tenham parado com o tabagismo há menos de 15 anos — nos dois grupos, deve-se ter consumido o número mínimo de 30 anos-maço (número obtido multiplicando-se o número de maços de cigarro consumidos pela pessoa por dia pelo número de anos em que foi fumante).

 

Atualmente, o exame mais comum é a radiografia total do tórax. Esse exame, no entanto, consegue diagnosticar a doença apenas em uma fase mais avançada. A tomografia de baixa dosagem, por outro lado, consegue rastrear os pequenos nódulos pulmonares (lesões de até três centímetros de diâmetro), que mais tarde podem evoluir para um câncer. Em outras palavras, a tomografia de baixa dosagem consegue identificar o câncer em sua fase inicial, e melhorar, assim, o prognóstico do paciente.

 

Segundo Ricardo Sales dos Santos, coordenador do Centro de Cirurgia Torácica Minimamente Invasiva e do Centro de Endoscopia Respiratória do Hospital Albert Einstein, o procedimento indicado pelo ACCP é benéfico também pela menor quantidade de radiação emitida, se comparada com a de uma tomografia tradicional. “A tomografia de baixa dosagem emite cerca de oito a dez vezes menos radiação do que a convencional. Por isso, ela pode ser repetida várias vezes em um mesmo ano, sem risco adicional de causar qualquer outro tipo de câncer”, diz.

 

De acordo com o médico, um nódulo pulmonar não deve ser um motivo de alarme, mas sim de precaução: 96% dos nódulos encontrados não irão se transformar em câncer. “Por isso, é importante que todo o processo de rastreamento seja acompanhado por um time de especialistas. Assim, evita-se que sejam feitas intervenções desnecessárias, como biópsias desses nódulos falso-positivos.”

 

Atualização — A diretriz do ACCP é baseada em um estudo de 2010, realizado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH, sigla em inglês). O trabalho monitorou mais de 50.000 homens e mulheres do grupo de risco para câncer de pulmão, e comparou os efeitos de dois diferentes métodos de rastreamento: a radiografia total do tórax e a tomografia de baixa dosagem. Os resultados mostraram uma redução de mortalidade de 20% entre aqueles que foram submetidos ao segundo método. “Esse foi o primeiro estudo efetivamente capaz de mostrar que realizar exames preventivos podem reduzir as mortes causadas por esse câncer”, afirma Artur Katz, coordenador de Oncologia Clínica do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.

 

A recomendação alerta, no entanto, que a tomografia de baixa dosagem não é a melhor opção para pacientes do grupo de risco que já apresentam sintomas do câncer de pulmão. “Para aqueles que já mostram sintomas típicos da doença, como variação no padrão da tosse ou tosse com sangue, dores torácicas e emagrecimento significativo nos últimos seis meses, é necessária uma tomografia com maior dosagem e alta definição, para identificar detalhes que vão além do nódulo”, diz Ricardo Sales dos Santos.

 

Brasil — De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 17.000 homens e mais de 10.000 mulheres desenvolveram a doença no Brasil em 2012. Segundo o Colégio Americano de Medicina Torácica, o câncer de pulmão é o principal responsável por todas as mortes envolvendo câncer. “É extremamente importante que essa doença seja diagnosticada em sua fase inicial. Por isso, a nova recomendação é tão importante: quando o câncer de pulmão ainda está no começo, há mais de 80% de chances de cura”, diz Sales. Já nos casos em que é detectado em um estágio avançado, as chances de cura caem para menos de 15%. “No Brasil, infelizmente, mais de 90% dos casos são descobertos quando já não há mais possibilidade de cirurgia.”

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